Callithrix aurita ou sagui-da-serra-escuro (Foto: Milena Nogueira)
As ações do Projeto sagui-da-serra-escuro tiveram início em São José dos Campos (novembro de 2022), em mais um esforço do Programa Primatas, visando à proteção do Callithrix aurita, uma das espécies de primatas mais ameaçadas do mundo. A Prefeitura firmou convênio com a Universidade Federal de Viçosa – UFV/MG e o Centro de Conservação de Saguis-da-Serra, único do mundo especializado em saguis-da-serra, para execução das ações com uso de recursos de fundo municipal.
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Na primeira etapa do Projeto (agosto de 2022 a fevereiro de 2024), as pesquisadoras - Bióloga Dra. Fernanda Maria Neri e a graduanda da FATEC/Jacareí Milena Nogueira C. Dias - contratadas pela UFV, realizaram várias incursões em diversos bairros no perímetro urbano do município para identificar as áreas de ocorrência dos saguis, como no Parque Ecológico do Alambari (região Leste), onde há uma população dessa espécie bastante conhecida pelos moradores, além de localidades na zona rural sul e norte, como o Parque Natural Municipal Augusto Ruschi, onde vivem grupos de saguis puros na área conservada da Unidade de Conservação de Proteção Integral.
Os objetivos do Projeto englobam localizar as áreas de ocorrência dos saguis, quantificar os animais – machos, fêmeas, subadultos e filhotes - identificar a espécie (nativo, híbrido ou alóctone), observar seu comportamento, analisar o ambiente onde vivem e propor e realizar ações de manejo dos saguis e do ambiente, quando necessárias. O convênio também prevê a sensibilização dos moradores quanto à importância da proteção da biodiversidade, com a realização de palestras pelos pesquisadores, contato com Universidades e órgãos locais e apoio para produção de materiais de comunicação sobre a fauna silvestre. Durante as abordagens, tem sido entregue folheto do projeto, com informações importantes e imagens do sagui-da-serra-escuro:
Folder - Projeto Sagui-da-serra-escuro
A Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade realizou uma palestra on line sobre "Ecologia e conservação de Callithrix aurita, o sagui-do-vale-do-paraíba - uma das espécies mais ameaçadas do planeta", que teve como público-alvo alunos de universidades da região, objetivando despertar nos estudantes o interesse em conhecer as espécies de primatas, sobretudo as existentes no Município. Foi apresentada pelo Professor Fabiano Rodrigues de Melo, titular da Universidade Federal de Viçosa – UFV, Conselheiro do Muriqui Instituto de Biodiversidade – MIB e membro do Comitê Executivo do Programa Primatas. O professor trabalha com primatas há mais de 25 anos, tem orientado inúmeros graduandos, alunos de Mestrado e Doutorado e colaborou para a criação do Centro de Conservação de Saguis-da-Serra – CCSS, criadouro científico voltado exclusivamente à manutenção e reprodução de saguis-da-serra. Com enorme conhecimento e desenvoltura, Fabiano explicou na palestra as diferenças entre as espécies, aspectos da alimentação, habitat e principais ameaças, como a hibridação ou cruzamento com saguis alóctones. Falou, por fim, da urgência para realização de levantamentos sobre os locais de ocorrência desses primatas onde não há dados sobre as populações existentes. A palestra realizada foi mais uma ação no contexto da iniciativa municipal de contribuir para a conservação dos primatas, da qual depende substancialmente a participação da sociedade joseense, como disse o Professor Fabiano, que deve se orgulhar de ter em seu território tantas espécies de primatas, animais que têm papéis extremamente relevantes para a conservação dos ambientes florestais.
Link para acesso ao vídeo da palestra: https://youtu.be/vvUHqw4LJT0
Outros órgãos e instituições apoiam o Projeto, como o Ecomuseu/CECP e o CRAS/Univap. Em novembro de 2022, o Projeto Ecomuseu promoveu um de seus encontros virtuais tendo o Callithrix aurita como tema. Participaram da conversa o Professor Fabiano Melo, da Universidade Federal de Viçosa, Hanna Kokubun, Médica Veterinária responsável pelo CRAS/UNIVAP, Lucas Paixão, do Ecomuseu e Andrea Sundfeld, da PSJC. O encontro, bastante animado e informativo pode ser visto na página do:
Facebook do Ecomuseu: https://www.facebook.com/ecomuseusjc/videos/704606300965824/
A Dra. Fernanda Maria Neri e Milena Nogueira executaram 10 campanhas de campo, visitaram vários bairros, conversaram com moradores, comerciantes, estudantes, funcionários de escolas, dentre outros, em busca de informações sobre os locais de vida dos saguis e da autorização de acesso às áreas. Os estudos também permitiram identificar alto grau de hibridação, sobretudo, na região Leste do perímetro urbano, levando à execução de ações de manejo dos saguis alóctones e híbridos, que tiveram início em julho de 2023, com capturas, esterilizações e soltura dos saguis nos locais onde viviam, elevando-se o grau de proteção do Callithrix aurita, o sagui nativo, em São José dos Campos.
A segunda etapa do Projeto, após novo aditivo ao convênio com a Universidade Federal de Viçosa - considerando os resultados apresentados e a necessidade de continuidade dos esforços - iniciou em maio de 2024, com campanhas do pesquisador Dr. Cleuton Lima Miranda, acompanhado de Milena Nogueira e, em seguida, somente de Rafael Augusto – graduando de Biologia da Univap. Nessa etapa, a Prefeitura contou com o apoio e recursos da APA Federal Mananciais do Rio Paraíba do Sul/ICMBio, para execução de ações exclusivas de mapeamento de grupos de saguis nativos e definição de suas áreas de ocorrência, visando à construção de um plano municipal da espécie ameaçada, cuja análise será obrigatória, como os demais planos municipais, para elaboração e execução das ações das políticas públicas setoriais.
Metodologia
As ações consistiram em saídas mensais a campo, ou campanhas, com duração média de 15 dias para vistoriar fragmentos de vegetação nativa previamente escolhidos, com base em: 1) reportes de munícipes, por meio de telefone/Wpp do Programa Primatas, 2) informações dos pesquisadores, obtidas em conversas com moradores e 3) áreas ambientalmente propícias à presença dessa espécie de primata (com presença de bambuzais, árvores frutíferas, córregos, etc).
A identificação dos saguis é feita por observação direta, com auxílio de ferramentas metodológicas como “playback” - emissão de gravação da voz dos próprios primatas que, na maioria das vezes, respondem ao estímulo - binóculos, GPS, câmeras, além do aparato de segurança pessoal.
As ações de manejo dos saguis alóctones e híbridos e a priorização dos locais de captura utilizou como critério o risco de hibridação entre saguis-da-serra-escuros e outras espécies, que destrói a genética do sagui nativo.
Saguis híbridos (Fotos: Fernanda Neri, Rafael Augusto e Milena Nogueira)
Ou seja, quanto maior o risco aos aurita, mais rápida a intervenção - como nos grupos com híbridos e puros ou em áreas com alóctones próximos a grupos de saguis nativos. O grupo de C. penicillata, que representava risco à população de C. aurita do PNMAR, foi o primeiro manejado. A detecção de saguis alóctones em grupos com puros gera o esforço de captura do grupo inteiro, com esterilização dos híbridos e coleta de dados biométricos e sangue, sem procedimento cirúrgico, dos nativos, pois deveriam ter a continuidade de reprodução assegurada. A soltura dos grupos é feita no mesmo local de captura, com acompanhamento pelos moradores.
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