Pesquisa científica

Pesquisa científica

Estudos que contribuem para a conservação das espécies

Histórico das pesquisas em SFX

A pesquisa científica é um dos eixos do Programa Primatas – formalizado por meio de Acordo de Cooperação, após longo percurso desde o 1º Seminário de Muriquis e outros Primatas de SFX, realizado pela Prefeitura de São José dos Campos, que foi um marco na primatologia nacional, com a presença de grandes nomes do Brasil e do exterior. O Programa, na verdade, é a materialização de importante esforço, inicialmente, da Prefeitura, que envolveu busca de contatos, conversas, realização de encontros e que foi ganhando forma quando passou a contar com o apoio de significantes instituições locais, como a própria subprefeitura de SFX, a Fundação Florestal, o Conselho Municipal de Meio Ambiente, a Associação Regenera Yama, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio com a APA Mananciais e seu Centro de Primatas Brasileiros/CPB, o Instituto Nacional da Mata Atlântica/INMA, o Muriqui Instituto de Biodiversidade/MIB, representados por pesquisadores que são referência em suas áreas e também membros de sociedades de pesquisa, que trouxeram seu prestígio e conhecimento, além de ícones na área da conservação mundial, como Russel Mittermeier e Karen Strier.

O início dos trabalhos de pesquisa com os primatas de SFXavier foi resultado, dessa forma, da grande sinergia de interesses e intenso comprometimento para a conservação das espécies.

Os estudos começaram em julho de 2021, quando pesquisadores foram recebidos em SFXavier, com apoio da subprefeitura em alojamento fornecido por membro da Associação Regenera Yama. O objetivo do estudo foi avaliar o tamanho e densidade populacional das cinco espécies de primatas que ocorrem na Área Estadual de Proteção Ambiental de São Francisco Xavier (APA-SFX). Os trabalhos de campo contaram, inicialmente, com o auxílio de condutores locais de áreas naturais e com a comunicação e convencimento dos proprietários de áreas particulares e pousadas, os quais autorizaram o acesso para estudo, levando à aproximação com a comunidade e o estabelecimento de trilhas, que foram percorridas em busca dos muriquis-do-sul (Brachyteles arachnoides), bugios (Alouatta guariba), sauás (Callicebus nigrifrons), macacos-pregos (Sapajus nigritus) e saguis-da-serra-escuros (Callithrix aurita).

A primeira pesquisa (jul/21 a dez/22) foi desenvolvida pelos Biólogos Letícia Almeida Moura e Paulo Rodrigo Dias, sob orientação e coordenação científica da Dra. Karen Barbara Strier, Dr. Fabiano Rodrigues de Melo e Dra. Carla de Borba Possamai, com acompanhamento e apoio do comitê executivo do Programa formado por membros da Prefeitura de São José dos Campos, ICMBio, Fundação Florestal, Muriqui Instituto de Biodiversidade e da Associação Regenera Yama SFX. Este estudo serviu de base para a Dissertação de Mestrado do Paulo, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Os trabalhos dos Biólogos foram financiados pelas entidades Re:Wild – Biodiversity is the Solution e Associação Regenera Yama, por meio do projeto intitulado “Project Primates of São Francisco Xavier: Follow-up Request for Seed Funding”, com apoio institucional e logístico da Prefeitura de São José dos Campos e do Conselho Municipal de Meio Ambiente - COMAM, que permitiu a aquisição de um drone com câmera termal e outros equipamentos.

Durante o 2° Seminário sobre Muriquis e Outros Primatas de São Francisco Xavier, em fevereiro de 2022, foram apresentados resultados preliminares da pesquisa científica - além de outras ocasiões, como em reunião do Conselho Gestor da APA Estadual de SFX e Seminários da Universidade Federal de Viçosa. O 2° Seminário sobre Muriquis e Outros Primatas consolidou e reforçou as parcerias entre as várias pessoas e instituições envolvidas nas ações do Programa. O resumo executivo abaixo aponta alguns resultados dos trabalhos desenvolvidos:

Resumo Executivo das Ações de Pesquisa Científica – Programa Primatas SFX Jul/21 a Dez/22

Em continuidade aos estudos de recenseamento dos primatas, novos integrantes chegaram ao Programa: Jerônimo Sanguinetti Eltz e Allan Souza, este de SFX e apoiado pela Associação Regenera Yama. Ambos fizeram o reconhecimento das áreas já estudadas, identificando novas propriedades com fragmentos que abrigam primatas e realizando sobrevoos com drone. Letícia Almeida, como aluna de doutorado da UNESP de Rio Claro, coorientada pela Dra. Carla Possamai, dedicou-se aos estudos de ecologia, comportamento e biodiversidade, relacionados à interação de flora e fauna, tendo em vista a relevância do papel dos primatas como jardineiros da floresta, pois estes atuam como dispersores de sementes de muitas espécies, sobretudo, daquelas com frutos maiores. Em novembro de 2023, com a saída de Jerônimo, Renato Santos, também residente de SFX foi incorporado às ações de campo do Grupo de Pesquisa. Os coordenadores do eixo de Pesquisa do Programa Primatas produziram o Resumo Executivo de Pesquisa de 2023, após reuniões, análise e interpretação dos dados levantados, representando a conquista de mais um ano de pesquisa sobre os primatas de São Francisco Xavier.

Resumo Executivo das Ações de Pesquisa Científica – Programa Primatas SFX Jan a Dez/23

Em 2024, os estudos se estenderam até julho, resultando em descobertas importantes, como a identificação de um bugio solitário e outro grupo de bugios, em área mais preservada e de maior altitude, espécie que há tempos não era avistada na região, desde o surto de febre amarela. Outras propriedades foram incluídas na lista de áreas estudadas. As dificuldades de financiamento das bolsas de pesquisa, ausência de local para estada e dificuldades com o veículo cedido levaram à pausa das atividades.

Resumo Executivo das Ações de Pesquisa Científica – Programa Primatas SFX Jan a Jul/24

Visando assegurar a continuidade das ações de pesquisa do Programa e viabilizar a realização de estudos de fauna em São Francisco Xavier, a Prefeitura realizou a reforma de construção existente no Parque dos Pássaros, um antigo galpão, o qual teve somente sua estrutura interna adequada para implantação de um alojamento de pesquisa do Programa Primatas, o qual deve estar liberado para uso em agosto de 2025. A aprovação de recursos de fundo municipal ambiental pelo Comam deve permitir a locação de veículo para trânsito no relevo de SFX, garantindo o retorno da pesquisa (censo de primatas), após chegada de novo pesquisador e contratação de assistente de pesquisa de campo.

Metodologia

Além da busca ativa pelos primatas, ou seja, a caminhada em meio à vegetação tentando visualizar os animais, foi utilizada a metodologia de censo por transecto, na qual a trilha é percorrida com uma velocidade de, aproximadamente, 1 km/h e são colhidas informações de localização, tamanho do grupo de animais e distância perpendicular do pesquisador ao grupo, sempre que os primatas são avistados. O censo com uso de playback (caixa amplificadora que reproduz o som emitido pelos animais para comunicação com outros de sua espécie) também foi usado, que é um método aplicado para intensificar a busca por primata de difícil detecção como o sagui-da-serra-escuro, por exemplo.

Foram instaladas armadilhas fotográficas que auxiliaram nos registros de comportamentos, na contagem e identificação do sexo e faixa etária dos indivíduos de muriquis-do-sul e dos demais primatas detectados; o fornecimento das câmeras e sua instalação contaram com o suporte da APA SFX da Fundação Florestal, Mantiqueira Ecoaventura e integrantes da comunidade local. Em 2024, foram adquiridas armadilhas fotográficas para uso no Programa.

Outro método de levantamento envolveu o uso de veículo aéreo não tripulado (drone), que demonstrou resultados promissores na busca pelos primatas e outros animais como preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus) e veados (cervídeos). Esses registros são possíveis devido à presença de câmera colorida de alta resolução - 4K e uma câmera termal que detecta os animais e objetos com temperaturas quentes. O drone foi adquirido pela Prefeitura e seu uso por pesquisadores do MIB foi possível por meio de acordo de cooperação firmado; há a expectativa de que primatas menores, como os saguis ameaçados presentes em fragmentos no território municipal, também possam ser levantados.

Todas as metodologias somadas contribuem para obtenção de resultados confiáveis, validando a pesquisa científica e contribuindo para a melhoria da tomada de decisão quanto à implementação de ações que visem à conservação das espécies de primatas, atendendo aos objetivos estabelecidos no Plano de Ação Nacional para Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e Preguiça-de-coleira.

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