O Brasil viveu, entre 2016 e 2021, um desastre ambiental gravíssimo: uma das maiores mortandades de primatas da história da Mata Atlântica, em função da intensa circulação do vírus da febre amarela. A situação praticamente levou à extinção de espécies mais sensíveis, segundo os profissionais que trabalham pela conservação de primatas brasileiros. Esta preocupação é maior diante da divulgação de informações equivocadas, sobre o papel dos macacos no ciclo da febre amarela, o que levou muitas pessoas a maltratarem os animais pensando que estavam protegendo a população humana. Devemos proteger os primatas, pelo seu papel importante na manutenção de nossa biodiversidade, por serem sentinelas e vítimas dessa doença grave, uma vez que vaciná-los é praticamente impossível e muitos morrem por causa da doença.
A verdade é que os primatas não transmitem a doença, são vítimas porque são sensíveis ao vírus da febre amarela (mais sensíveis que os humanos) e não podem ser vacinados. Quando estão doentes ou morrem pela doença e são encontrados, servem de alerta aos órgãos de saúde sobre a necessidade de vacinação da população humana nos arredores. Ou seja, eles são sentinelas pois o vírus primeiro atinge os macacos antes de o vírus atingir populações humanas. O transmissor da doença é o mosquito que carrega o vírus e pica tanto humanos como os primatas.
Dessa forma, é papel do Programa Primatas informar corretamente e contribuir para a proteção dos animais, em consonância com ações de vigilância epidemiológica, considerando a abordagem de Saúde Única – que preza pela união indissociável entre saúde animal, humana e ambiental. Na medida em que eventuais maus-tratos de animais causados pela população, inviabilizam a identificação das áreas de circulação do vírus e a realização de campanha de vacinação focada e mais efetiva.
Todos devem saber que:
- A febre amarela é uma doença africana que foi trazida para as Américas pelo homem. Não é contagiosa; nem os primatas nem os humanos transmitem diretamente essa doença;
- Os primatas são altamente sensíveis ao vírus da febre amarela, especialmente os bugios ou guaribas, os saguis ou micos, os sauás ou guigós, os macacos-prego, e até os muriquis ou mono-carvoeiros. Ou seja, os macacos são vítimas e ainda ajudam a sociedade se proteger, já que sua morte indica a circulação da doença na região. Sem os macacos, estamos desprotegidos para perceber a chegada e os deslocamentos do vírus. Os primatas são as principais presas dos mosquitos da febre amarela silvestre, se alguém mata os primatas, amplia as chances dos mosquitos, adaptados a picá-los, alcançar a população humana;
- Os primatas não são reservatórios da doença porque o vírus se mantém por um curtíssimo espaço de tempo. Assim como os humanos (não vacinados) são considerados hospedeiros do vírus, pois adoecem e podem morrer por conta dessa infecção. Os reservatórios do vírus e responsáveis por sua manutenção na natureza são os mosquitos silvestres, os quais podem transmitir o vírus para novos hospedeiros durante a sua vida, que duras cerca de 30 dias. No caso dos mosquitos, as fêmeas podem passar o vírus para sua prole ainda no ovo; ou seja, o mosquito pode já nascer com o vírus da febre amarela, sem nunca ter picado um ser humano ou primata infectado;
- No Brasil, a febre amarela tem caráter sazonal e vem com o aumento de chuvas e de temperatura o que favorece o aumento do número de vetores (mosquitos), então as principais medidas de prevenção para humanos e melhor estratégia para proteger os primatas da febre amarela, recomendadas pelo Ministério da Saúde, incluem a vacinação e o controle da proliferação dos mosquitos vetores;
- Quando a população humana era menor e as florestas mais contínuas a reprodução dos macacos que sobreviviam ajudava a recuperar as populações. À medida que a população humana aumentou, invadiu mais e mais áreas silvestres com as cidades, pastagens, campos agrícolas, fragmentando e reduzindo as áreas com vegetação nativa. Consequentemente, as populações dos primatas foram sendo reduzidas e isoladas em áreas cada vez menores promovendo aumento na proximidade dos primatas com os seres humanos e a troca de agentes patogênicos.
- Além da ameaça à biodiversidade, a mortandade dos primatas impacta o equilíbrio das matas. Dependendo dos hábitos alimentares de cada espécie, eles desempenham funções diferentes, ajudando a propagar sementes das frutas que comem, a reciclar nutrientes do solo ou atuando como presas e predadores, influindo no controle da população de insetos e aracnídeos. Os primatas são espécies que já estão com suas populações reduzidas e vulneráveis devido a fatores como desmatamento, caça ilegal, captura para comércio clandestino, e ainda tem a febre amarela derrubando populações que, há décadas, pesquisadores trabalham para proteger.
Ajude a proteger os primatas! Vacine-se contra a febre amarela!
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