Cláudio Souza
Secretaria de Apoio Social ao Cidadão

Agosto de 2021. Aos 60 anos, a paraibana Fátima Mendonça Gasparella chegou ao fundo do poço. Quem já havia perdido o emprego devido às dificuldades acarretadas pela pandemia da covid-19, agora também não tinha onde morar.

Em depressão profunda e sem dinheiro para pagar o aluguel, vendeu quase tudo que tinha, encheu uma mala com seus poucos pertences e foi pedir ajuda no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Dom Pedro 1º, na região sul de São José dos Campos.

Com sensibilidade e amor ao próximo, a funcionária da Prefeitura que a atendeu disse uma frase que fez toda a diferença: "na rua você não vai ficar". Ato contínuo, Fátima foi encaminhada para o abrigo municipal feminino.

Apenas quatro meses depois, aquela semente de esperança germinou. O fruto? Uma nova vida.

Mais do que acolhida, um lugar para morar e novas amigas entre as companheiras de abrigo e funcionários do local, Fátima encontrou uma nova perspectiva de futuro aos 60 anos.

No mês passado, ela e outras 10 mulheres dos abrigos feminino e LGBTQIA+ mantidos pela Prefeitura através de entidades parceiras concluíram cursos de aperfeiçoamento profissional no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em mais uma iniciativa da Administração municipal para garantir oportunidades de estudo e melhoria de vida para quem mais precisa.

Aos 60 anos, Fátima pretende cursar Pedagogia

Amor ao próximo

Fátima gostou tanto da experiência que não pretende mais parar. Já se inscreveu no EJA (Educação de Jovens e Adultos) para voltar a estudar e concluir o ensino médio. Aos 60 anos e com disposição de sobra, em 2022 quer fazer faculdade.

O curso? Fátima explica, com o altruísmo de quem sempre venceu as barreiras impostas pela vida e quer doar seu tempo para fazer diferença na vida das pessoas, principalmente das que mais precisam.

"Quero fazer pedagogia para ensinar e ajudar as pessoas, assim como fizeram comigo quando precisei de auxílio ao ir para o abrigo municipal. Quero retribuir para a sociedade o bem que a Prefeitura me fez ao me estender a mão", disse Fátima.

"Renasci das cinzas. Quando fui ao Cras, estava em depressão profunda e não tinha mais nenhuma perspectiva de vida. Apenas quatro meses depois, já voltei a estudar e não quero mais parar. Minha vida ganhou novas cores e hoje tenho esperança de um grande futuro", completou.

Gísélia quer voltar a morar com os três filhos

Vida nova

A história da paranaense de Cianorte e agora joseense de coração Gisélia dos Santos Marques, 37 anos, também é inspiradora e mais uma lição de vida e de superação.

Porta-voz e oradora da turma que fez os cursos no Senai, ela também quer voltar a estudar e cursar Administração de Empresas.

"O curso do Senai, propiciado pela Prefeitura, me abriu novas perspectivas. Sempre trabalhei com moda e, com o que aprendi nestes dois meses, quero voltar a trabalhar", afirmou Gisélia.

Ela sonha em breve deixar o abrigo e voltar a morar com os três filhos, de 5, 10 e 11 anos e que atualmente estão com os avós maternos.

"Vou voltar a trabalhar e fazer faculdade para propiciar um futuro melhor para meus filhos. Superei muitas dificuldades e quero que eles tenham orgulho de mim."

Superação

A convivência com as 11 moradoras dos abrigos municipais também inspirou os professores do Senai.

No dia da entrega dos certificados de conclusão dos cursos, eles não contiveram o choro ao se despedir das mulheres para quem abriram uma janela de novas oportunidades através do conhecimento.

"Chorei mesmo. Ensinamos muito, mas aprendemos muito mais com elas. Que lições de vida e superação que nos deram. Ficamos muito felizes de poder contribuir para a formação de pessoas tão especiais", disse a coordenadora de Relacionamento com o Mercado do Senai, Ana Lúcia Cursino.

"É muito importante proporcionar para as pessoas que utilizam nossos serviços ofertas e oportunidades que garantam a retomada de projetos de vida e a construção de novos caminhos", afirmou a coordenadora de Proteção Social Especial da Prefeitura, Vanessa Castro.

Grandes voos

Na grande escola que é a vida, onde aprendemos e ensinamos todos os dias, Fátima, Gisélia e suas companheiras dos abrigos municipais provaram que nunca é tarde para recomeçar.

"A vida é uma enorme roda gigante. Um dia estamos por baixo, no outro estamos por cima. O importante é nunca deixar de se mover", disse Gisélia, com a sabedoria de quem já superou muitos obstáculos.

Com a força da fênix da mitologia grega que, quando morria entrava em autocombustão e, passado algum tempo, ressurgia das próprias cinzas, estas 11 guerreiras são as donas de seus destinos.

Ao voltar a estudar, abriu-se um horizonte de novas oportunidades para elas e seus filhos. Afinal, como nos lembra o político e filósofo inglês Francis Bacon, "o homem pode tanto quanto sabe".

Com o tesouro do conhecimento, bem que ninguém pode nos roubar, ganharam asas para alçar grandes voos. Para quem não desiste dos seus sonhos, não há limites.

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Cursos do Senai para mulheres que vivem nos abrigos municipais

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