Prefeitura propicia mudança de vida para moradores de abrigos
Atualizado em 17/12/2021 - 19:02
Palestras para ex-presidiários que moram em abrigos municipais
Como os passarinhos citados na frase atrás de suas cadeiras, os egressos do sistema prisional já estiveram presos e hoje estão livres para sonhar e mudar de vida - Foto: PMSJC

Cláudio Souza
Secretaria de Apoio Social ao Cidadão

K.A.B passou 19 de seus 53 anos preso. Ex-chefão do tráfico de drogas na comunidade Santa Cruz, na região central de São José dos Campos, após ser solto viveu 5 anos nas ruas.

Mas tudo mudou há seis meses, quando aceitou o acolhimento oferecido pelas equipes da ronda social da Prefeitura e passou a morar em uma comunidade terapêutica da região sul que mantém parceria com a Administração municipal por meio da Secretaria de Apoio Social ao Cidadão.

I.S.S. tem 39 anos e deixou a prisão há um mês após cumprir pena de 10 anos. Atualmente, mora no Abrigo LGBTQIA+.

Além do desejo de esquecer os erros do passado e escrever uma nova história, o que K.A.B e I.S.S. têm em comum?

Eles e um grupo de cerca de 20 egressos do sistema prisional participaram nesta semana de workshop promovido pela Prefeitura em mais uma ação de inclusão, conscientização e reflexão realizada pelo recém-implantado Centro de Referência Afrobrasileira.

Ao final das palestras sobre novas oportunidades após a vida atrás das grades, o educador social, pesquisador e produtor cultural Roberto Ferreira dos Santos, mais conhecido como Betinho Zulu, pediu para cada um se apresentar e contar sua história.

Nova chance

A partir deste momento, a sala onde ocorreram as rodas de conversa se transformou em uma lição de vida, dignidade, autoestima, superação e esperança de dias melhores para eles e para suas famílias.

Todos fizeram questão de se manifestar. Era a oportunidade de extravasar, desabafar, espantar os fantasmas do passado e pedir uma nova chance.

Personalidades diferentes, mas histórias e clamores semelhantes: erramos muito, já pagamos pelo que fizemos cumprindo nossas penas e hoje queremos trabalhar e retribuir para a sociedade o que no passado tiramos com nossas ações criminosas.

Mas como ter sucesso neste objetivo nobre se o preconceito com egressos do sistema prisional ainda é forte, principalmente no mercado de trabalho?

Para auxiliá-los neste recomeço, a Prefeitura realiza constantemente, por meio da Sasc, palestras, rodas de conversas, oficinas e cursos de capacitação para as pessoas que residem nos abrigos municipais e nas unidades conveniadas.

Em outra frente de atuação para resgate da cidadania após cumprimento de penas, a Administração municipal foi pioneira em São Paulo na implantação, em parceria com o governo do Estado, do programa Pós-Medidas para egressos da internação, semiliberdade e internação provisória da Fundação Casa (leia mais abaixo).

Betinho Zulu disse que aprendeu muito mais do que ensinou

Exemplo

K.A.B. reconhece a ajuda da Prefeitura no processo de retomada para ser motivo de orgulho e exemplo para seus 24 filhos biológicos e adotivos e para seus 40 netos.

"Se não fosse a ronda social, talvez ainda estivesse vivendo nas ruas. Todo dia me ofereciam acolhimento. Após 5 anos, resolvi aceitar e minha vida já melhorou muito", afirmou K.A.B, observado por um de seus filhos, que mora com ele na comunidade terapêutica da região sul após também ter sido preso.

"Hoje eu e meu filho estamos felizes, mas queremos voltar a trabalhar. Estamos dispostos a fazer cursos e ter uma profissão. Erramos muito, mas agora queremos ser motivo de orgulho para nossa família", completou.

Dignidade

I.S.S. elogiou a iniciativa da Prefeitura. "Foi muito bom vir aqui. Abriu muito minha mente e me ajudou na perspectiva e no meu projeto de mudança de vida".

Ela comoveu a todos com seu depoimento ao contar que, após ser solta há um mês, conseguiu emprego em uma loja. Passados alguns dias, a chefe pediu que não levasse mais sua bolsa para o trabalho.

"Por que só eu recebi esta ordem e as outras moças iriam continuar levando suas bolsas para o trabalho? Percebi o preconceito e a desconfiança com meu histórico de egressa do sistema prisional. Acharam que iria roubar as coisas e esconder na bolsa", disse I.S.S, que tem três filhos.

"Na mesma hora, pedi demissão. Prefiro ficar desempregada a trabalhar em um local em que não confiam em mim. Mas esta situação não vai me desanimar. Estou no abrigo só de passagem. Quero mudar de vida e trabalhar".

Ao contar esta história, recebeu apoio maciço e aplausos. A conclusão foi unânime na sala: ela demonstrou mais dignidade do que sua ex-chefe.

Aprendizado

Betinho Zulu ficou entusiasmado com o resultado dos dois encontros.

Além dos relatos de K.A.B e de I.S.S., ele se sensibilizou com um dos participantes que disse que deseja conseguir um emprego rapidamente para em abril próximo comprar um presente para a filha no seu aniversário de 8 anos.

"Eles quebraram barreiras contando suas histórias e manifestando a intenção de trabalhar e escrever novas histórias. Já participei de vários encontro como estes em que as pessoas se retraem e ficam quietas", afirmou o educador social.

"Foi muito enriquecedor. Vim passar orientações e aprendi muito mais do que ensinei. A Prefeitura já os ajuda no dia a dia e fico feliz de ter dado minha contribuição. Espero que consigam realizar seus sonhos", completou.

Liberdade

Gigante da Humanidade por seu exemplo de vida e de resistência pacífica, o advogado indiano Mahatma Gandhi nos ensinou que "a prisão não são as grades e a liberdade não é a rua. Existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência".

Em outra lição de sabedoria, afirmou que "nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer".

K.A.B, I.S.S. e seus companheiros já estiveram presos e hoje são livres e conscientes de que podem ser úteis à sociedade.

Para isto, pedem respeito e um voto de confiança para que possam realizar os desejos de seus corações e alçar voos cada vez mais altos. Afinal, não há barreiras para quem sonha.

Programas e ações da Sasc

Rondas sociais, abrigos e parcerias

• O serviço de ronda social é realizado 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana e feriados, com atendimento humanizado. O trabalho foi intensificado e tem o apoio da GCM (Guarda Civil Municipal) e da Polícia Militar, neste caso através da Atividade Delegada.

• São José possui o Centro Pop e uma rede de abrigos estruturada, que garante proteção e resgate da cidadania para pessoas que viviam em situação de rua. Todos contam com educadores sociais, psicólogos e assistentes sociais e oferecem higienização e alimentação completas, além de camas para dormir.

• Os abrigos são segmentados por grupos: masculino, feminino, LGBTQIA+ e para pessoas com doenças crônicas e com dificuldades para a vida diária, além de abrigo família e indivíduos.

• Além do atendimento humanizado com estrutura e dignidade, alguns espaços oferecem acomodações para cães e gatos.

• A Prefeitura mantém ainda parceria com entidades assistenciais e comunidades terapêuticas que abrigam dependentes de álcool e drogas que estão em processo de desintoxicação e egressos do sistema prisional, entre outras pessoas que necessitam de apoio para reinserção na sociedade.


Qualificação profissional

• Os abrigos municipais, Cras (Centros de Referência de Assistência Social), Creas (Centros de Referência Especializados de Assistência Social) e entidades parceiras da Prefeitura oferecem constantemente palestras, oficinas e cursos de qualificação e capacitação para inserção e reinserção no mercado de trabalho e para as pessoas que querem empreender.

• Em outra iniciativa de inclusão social, a Prefeitura implantou em 2018 o programa Pró-Trabalho. Coordenado pelas secretarias de Apoio Social ao Cidadão e de Inovação e Desenvolvimento Econômico, garante oportunidades e cursos de qualificação com o intuito de preparar os bolsistas.

• Desde a implantação do Pró-Trabalho, já foram convocadas 3.790 pessoas. Os benefícios para os bolsistas são bolsa-auxílio qualificação no valor de R$ 1.000 por mês, por até um ano e renovável por igual período, vale alimentação de R$ 100 e vale transporte.


Programa Pós-Medidas

• Além de garantir abrigo e apoio social e psicológico para egressos do sistema prisional, a Prefeitura adotou mais uma ação neste mês para resgate da cidadania de munícipes após cumprimento de penas.

• São José foi pioneira entre os 645 municípios paulistas na celebração de parceria com o governo do Estado, por meio da Fundação Casa, para implantação do programa Pós-Medidas.

• O principal objetivo é o acompanhamento de adolescentes e jovens egressos da internação, semiliberdade e internação provisória das três unidades da Fundação Casa na cidade para que tenham oportunidades de emprego, estudo, capacitação e melhoria de suas vidas e de seus familiares.

• Saiba mais sobre o programa Pós-Medidas.


Centro de Referência Afrobrasileira

• A Prefeitura implantou no mês passado o Centro de Referência Afrobrasileira, que funciona na Sasc (rua Henrique Dias, 363, Monte Castelo).

• A missão é promover a cultura afrobrasileira no município e incentivar o diálogo sobre igualdade racial e defesa de direitos para a população negra e o combate à discriminação e à intolerância.

• O Centro realiza constantemente palestras, rodas de conversa e oficinas de qualificação profissional, entre outras ações como as realizadas nesta semana para os egressos do sistema prisional.

• Saiba mais sobre o Centro de Referência Brasileira.

 

 

 


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